domingo, 6 de março de 2011

Horas de um Sábado - Parte I


Ou Crônicas da Cadela

Após semanas (muitas) de chuva e frio, o último Sábado amanheceu ensoralado e quente com aroma de Primavera. A bicha cá de casa, foi a primeira a se esbaldar no tapete, enquanto me olhava com aquela cara de quem indaga:
- E então? Vou passear agora, já ou daqui a pouco?
Mas há rotinas que tem que ser cumpridas para a boa ordem geral do lar.
Depois do final de semana na Serra da Estrela, o caos instalou-se por aqui e 30% das roupas da casa estavam por lavar... enfim, depois das roupas lavadas e estendidas faltava só limpar a orelha da cadela anciã, que agora anda com uma otite crônica que exige vigilância constante, o que vem a aumentar em um item a mais a lista de revisão semanal... mas lá conseguimos tirar as pantufas e, abanando o rabo (o dela pois eu não tenho) descer rumo ao nosso passeio ao sol.


Em frente de casa temos um amplo relvado por onde passeiam todos os cães que vivem na zona... obviamente cada um deles tem a sua rotina e gostos específicos. A minha, tem seus cantinhos todos definidos, há a região do xixi, os montinhos de mato perto do muro para comer relva e a zona delimitada para fazer cocô... todos os dias, todos os passeios, tudo igual.


Passando para o outro lado da linha do comboio (que passa em frente de casa) temos algumas lojas comerciais, entre elas uma mercearia que me redime das falhas na lista de compra e para onde corro sempre que falta cebola, alho ou pimentão... ou ninguém ainda percebeu que eu não vivo sem estes 3 ingredientes?
O problema é que, apesar da cadela pensar que é gente, ela não engana o dono da mercearia e tem que ficar estacionada a porta, atada ao tronco de uma árvore. A pobre da bicha sente-se o mais infeliz dos quadrúpedes durante os poucos minutos em que saio do seu campo de visão.


Há quase 40 anos atrás, eu tb me senti assim, qdo minha mãe foi a farmácia e deixou-me a espera dentro do carro... ainda lembro do filme que me passava pela cabeça: Eu velhinha, esquecida dentro daquele fusca vermelho e as pessoas passando pela rua indiferentes ao meu destino.

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