Apesar de adorar Haruki Murakami, decidi por eleger como o meu livro do ano SHANTARAM de Gregory David Roberts. Diria mais, Livro do Ano e da Década, pois não me lembro de ter lido algo tão bom nos últimos 10 anos. A idéia de ler o relato de um ex-presidiário a viver no meio da máfia em Bombaim nada mais me dizia do que a certeza de que eu iria abandonar a leitura enfadonha nas primeiras páginas. Mas o inesperado aconteceu e eu caí esparramada dentro deste livro e não o consegui largar até ter terminado a leitura e ter esgotado todas as buscas possíveis na internet sobre mais informações que envolvessem o autor e tal romance. Saturadas as buscas, fiquei num limbo literário até hoje a procura de algo tão surpreendentemente envolvente e humano.
Gregory David Roberts narra em SHANTARAM a sua própria aventura de vida. Antigo revolucionário, viciado em drogas, assaltante, aportou a Bombaim fugindo à justiça Australiana. Depois de múltiplas aventuras, acabou por cumprir, o resto da pena de prisão na Austrália natal, tendo sido na cadeia que escreveu este romance, por duas vezes destruído pelos guardas prisionais antes que conseguisse terminá-lo e convertê-lo num imenso êxito editorial em todo o mundo. Hoje é já um homem livre, que se dedica a difundir sua obra e a sua filosofia de vida, estando a preparar a segunda parte de SHANTARAM.
Muitas críticas e resenhas há para ler por aí... Para mim bastou a primeira página do primeiro capítulo que transcrevo abaixo:
Eu era um revolucionário que perdera os ideais em heroína, um filósofo que perdera a integridade no crime e um poeta que perdera a alma numa prisão de alta segurança. Quando fugi, saltando o muro, entre as duas torres de vigia, transformei-me no homem mais procurado do meu país. A sorte acompanhou-me e voou comigo através do mundo para a Índia, onde me juntei à máfia de Bombaim. Trabalhei como traficante de armas, contrabandista e falsário. Fui preso em três continentes, sovado, apunhalado e passei fome. Fui para a guerra. Enfrentei as armas inimigas. E sobrevivi, enquanto outros, em meu redor, morriam. Eram melhores do que eu, na sua maioria: homens melhores cujas vidas foram destruídas por enganos e desperdiçadas pelo momento errado do ódio, do amor ou da indiferença de alguém. E enterrei muitos desses homens, enterrei-os e lamentei as suas histórias e as suas vidas, como se da minha se tratasse.
Reproduzo ainda uma das minhas passagens favoritas:
Qualquer que fosse a razão, sentia-me desanimadoramente só na cidade. Perdera na mesma semana Prabaker e Abdullah, os meus amigos mais íntimos, e, com eles, perdera a marca no mapa psíquico que diz "Você está aqui". A personalidade e identidade pessoal são, de algum modo, como as coordenadas no mapa de rua traçado pela intersecção das nossas relações. Sabemos quem somos e definimos o que somos através de referências às pessoas que amamos e às nossas razões para os amar.
Sim, o melhor que já li. Aquele que guardo como um tesouro
ResponderEliminar